quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Saudades, é só isso.


Assustou-se. Não sabia o que tinha acontecido, se era sonho ou realidade. Preferia esquecer. Tentou pegar no sono mais uma vez, mas ele tinha decidido dar uma volta e ela não percebeu. Então, Ana se levantou, olhou-se no espelho pequenino do banheiro mal iluminado por conta dos problemas na instalação elétrica. Deu uma volta no quarto, foi à varanda. Nada, nada que pudesse ser feito àquela hora da madrugada. Pensou em tomar um café, mas lembrou que isso ajudaria apenas no passeio do seu sono. Desistiu. Sentou-se na cama. Olhou pro teto, lembrou de coisas antigas, como seu aniversário de quinze anos, das daminhas, do lindo e gigante bolo, da valsa com seu pai falecido, sentiu saudades. Lembrou também de sua formatura do ensino médio, dos amigos deixados na pequena cidade, de quando passou no vestibular e da imensa alegria de sua mãe que agora ainda estava lá, na mesma pequena cidade onde deixou seus amigos, naquela cidadezinha que sabia que não era mais dela e que nunca mais voltaria a ser, tinha medo é que os amigos e a mãe também não fossem mais seus, mas preferiu não pensar nisso naquele momento.
Foi à sua estante, procurou um livro ainda não lido e percebeu que precisava ir à livraria urgentemente. Olhou as horas no celular ( seu relógio havia caido na privada. Quanta desatenção da parte de Ana, não acha? ). Eram 05:18hs. O dia começava a nascer. Ana então sentiu vontade de nascer junto com ele, de se renovar, de voltar ao passado e àquela cidadezinha no interior que agora não era mais sua. Não pôde. Tentou ver tevê. Nada lhe agradou. Quis gritar, chamando  seu sono de volta, dizendo que a hora do passeio já havia acabado, mas lembrou que tinha vizinhos. E quão chato eram seus vizinhos. Não podia sequer levar um rapaz para, de repente, quem sabe, dar uma galopada à noite, gemer, gritar, gozar. Até disso eles reclamavam. "Que saco", pensou Ana. E por falar em rapaz, em galopar, em gemer, gritar e em gozar, lembrou-se de Luís. É aquele P.M. mesmo, sentiu saudades. Saudade do dia que se conheceram (não na cidadezinha que não pertencia mais a ela), ali em algum bar que não mais se recordava. Cruzou as pernas e sentou-se à mesa, foi isso que ele disse que chamou sua atenção,  "meu jeito charmoso de sentar-me à mesa e de cruzar as pernas, ali sozinha, com os meus cabelos encaracolados, compridos e loiros. Eu ri. É. Ri! Não sei se ele gostou do meu riso, pode ter achado um deboche. Mas não era. Ri pela sua cara de tarado que fazia quando dizia do meu jeito de cruzar as pernas. Ahh, Luís. Que falta eu sinto do fim daquela noite. Aquela sua boca animando minhas íntimas partes, aquele seu suor escorrendo pelo meu corpo, eu te sentindo, você se deleitando com meus cabelos encaracolados, compridos e loiros", Ana já começava a se acariciar com aqueles pensamentos. UFA, quantas lembranças que Ana possuía. Achou melhor não mais pensar nisso, afinal estava sozinha, sem aquele moreno, pedaço de mal caminho que era  Luís. Não queria passar o resto da madrugada cansando seu dedo indicador.
Deitou-se à cama. Pensou mais um pouco. Em como sua vida tinha mudado após crescer, amadurecer. Não queria ter amadurecido tão precoce, acha que perdeu um pouco de sua adolescência preocupando-se com  seu futuro. E agora ela sente saudades, é só isso. Saudades de tudo. E quanto isso dói, fere do jeito mais cruel a alma e o coração de Ana. Então ela chora, chora baixinho por causa de seus vizinhos chatos. E  seu choro é  suficiente pra fazer seu sono retornar do passeio.

6 comentários:

Lê Fernands disse...

emoções obrigatórias... rs =)



bjsmeus

Camila Alves disse...

Se a gente pudesse controlar a saudade, hein?
Mas é sempre bom lembrar daquilo que foi inesquecível...
:D

Beijos!

Miri Fernandes disse...

Pois xará, quem consegue viver sem elas? Rs.


Camila, saudade machuca tanto que às vezes preferia esquecê-la.


Karine, obrigada pela visita!

Lorde Croowel disse...

Que narrativa envolvente, sexy. Elementos de cunho sexual sempre prendem o leitor. Mas também a forma como você expôs os sentimentos. A saudade, como a saudade machuca...

Garoto Lunático disse...

A saudade é sufocante. P.S: Já passei a madrugada cansando minha mão direita e sei bem o quanto depois, isso se torna blasé;

Miri Fernandes disse...

Lorde Croowel, repetirei meu comentário acima...A saudade dói tanto que às vezes eu preferia esquecê-la, não tê-la.



Sr. Lunático, sem comentários para o seu comentário.
Rs.

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