sábado, 23 de abril de 2011

Conflito Constante.

Os olhos pesados de Alice foram obrigados a se abrirem por conta daqueles barulhos vindos da cozinha.
Aquele seria mais um dia acompanhado pelo tédio.
Alice forçou seu corpo a se levantar da cama que lhe abraçava carinhosamente. O travesseiro tem sido seu amigo leal, seu confidente, o único capaz de secar as lágrimas que caíam toda noite. Virou rotina e Alice acostumou-se com essa vida.
Foi ao banheiro e deu um "bom dia" para aquelas pessoas que atrapalharam seu sono. Essas, mal responderam a moça que logo percebeu, mais uma vez, o quanto era indesejada ali.
Quis não estar passando por aquilo tudo, mas lembrou das palavras carinhosas da sua mãe:
"Filha, não vai ser fácil. Terá dias em que acordará cansada, pensando em desistir. Mas persista. É a sua vida, é a nossa vida. Você é capaz e sabe muito bem disso. Lembre que eu estou sempre aqui e que eu te amo demasiadamente."
Alice não encontrava mais palavras para descrever seus sentimentos, suas dores. Tudo saía da mesma maneira, sem novidades. Não conseguia mais encontrar os amigos e derramar as lágrimas em seus ombros. Sentia-se perdida. Era só ela e sua alma em constante conflito.
E assim iria ficar por muito tempo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O de sempre.

Procurei algo para ser feito naquela manhã gélida e escura. Ninguém presente para ouvir minhas aflições. Nenhum objeto que pudesse ser capaz de atrair minha atenção. Nenhum cheiro que me fizesse delirar. Um nada. Um oco.
Aqueles últimos dias tinham sido o ápice da depressão. Aquela chuva fininha me matava de saudade, aquele vento frio me lembrava dos abraços e cobertores que repartíamos. Nada agora poderia explicar aqueles sentimentos que perambulavam pela minha mente sem me deixar pensar.
Na verdade, os ruídos existentes eram só o da minha respiração. Meu coração não mais batia, meu sangue não mais corria pelas veias. Tudo ficou estático. Sem motivação para realizar seu traballho vital dentro de mim. E era assim, realmente, que eu me sentia. Morta.
É, eu, mais uma vez, estou falando de saudade.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um bom amigo.


Traga-me mais uma dose de solidão. Não vivo mais sem ela. Tão companheira e carinhosa, gosta de me deixar calada, mas é paciente. Entende-me com frequência.
Estou viciado nela e ela em mim. Não queira você tirar a minha bela amiga daqui.
Tão confidente e sempre bem humorada. Ouve-me e não reclama. Só insiste para que eu seja amiga de seu amigo.
- Amigos em comum a essa altura, solidão?
E lá vem o tempo dizendo que, enfim, secará todas as minhas lágrimas.



Trecho de Um bom amigo.
(It's mine)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Meus cem, sem.


Sem inspiração,
Tudo sem nexo.
Sem cor,
Sem sucesso.
Tudo sem.
Sem beleza,
Sem vida,
Sem dor.
É, estou sem cem R$.


Trecho Meus cem, sem.
(Meu)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Somar, subtrair, multiplicar, dividir.

Está como uma ferida aberta, exposta ao ar. O sangue não se estanca. A dor não passa. E a fagocitose está sendo feita ininterruptamente. Mas é aqui, isso tudo está dentro do meu membro principal, dentro do meu pulsar vital. Entre meus pulmões ou fígado e estômago. Não sei mais.
É como um caminho longo, aberto, de livre escolha, mas que você sabe que está perdido. Uma trilha. Raízes entrelaçadas e pronfundas.
São esses laços que me fazem cair na cama, que me fazem não querer acordar pela manhã. Como naquelas manhãs que eu levantava sorridente e disposta a viver mais um dia que foi oferecido a mim.
Tudo estranho, escuro, contrário. Como os números negativos que tem módulos positivos.
E isso é um conjunto de tudo que foi feito anos antes. Como os números naturais que estão contidos nos números reais.
Agora estou aqui. Vendo aquelas equações, somando, subtraindo, multiplicando e tentando dividir essa dor que insiste em se esconder apenas em um espaço. Ela não consegue entender que pode possuir dores iguais mas em lugares diferentes, não precisando, assim, acumular tudo em um só canto, como os vetores, que podem  ainda mudar o sentido e consequentemente ser coisas diferentes do que realmente são. Quem sabe um futuro preenchimento que me tire desse vazio e me faça ver mais coisas além de números e definições de funções, continuidade, limites, derivados afundados naquele quadro de giz ?