sábado, 23 de fevereiro de 2013

PARTE II


Arrumou todas as coisas que tinha em uma única mala. Deu fim a todos os seus poucos móveis, “vendendo-os à preço de banana”. Lanis sabia que aquela era a melhor e única coisa que poderia fazer: voltar para São Paulo. Pediu demissão e aguardou dois dias para receber o que tinha direito. Comprou sua passagem e embarcou uma semana após a conversa com Jhon. Durante esse tempo, ele ligou, mandou sms, mas Lanis não o atendeu de nenhuma forma.
Sua viagem foi tranquila, mas não sabia se assim seria quando chegasse em casa. Não havia ligado para avisar nada temendo que seus pais a rejeitasse. Desceu na rodoviária às 13:00 horas de uma terça-feira. Havia esquecido o terminal rodoviário do Tietê era movimentado e sentiu-se perdida por um momento. Respirou fundo e enfrentou toda aquela multidão, com a coragem que achava que nunca teria e que nunca teve.
- Quem é? – Lanis ouviu sua mãe perguntar ao interfone. Depois de dois meses sem ligar para casa, a voz de sua mãe soava estranha.  Talvez triste, amargurada, não sabia. Pensou no quanto havia perdido durante aqueles seis anos e sentiu ódio por ter sido tão estúpida. Fechou os olhos com força e deixou uma lágrima escorrer.
- Mamãe, sou eu. Lanis.
- Lanis? Minha filha? – Sua voz passou de triste para incrédula.
- Sim, mamãe. Em carne e osso. – Soltou uma risada contida. – Dá para abrir o portão e vir me receber?
- Claro, minha filha. Estou descendo.
Lanis ouviu o bater do interfone, como se a mãe mal tivesse colocado-o na posição correta. Percebeu que a surpresa não havia sido desagradável e compreendeu o quanto sua mãe a amava e sentiu-se culpada mais uma vez.
- Lanis! Não posso acreditar. É você minha filha. Quanto tempo. Como você está? Por que não avisou que viria? Está de dieta? Estou lhe achando magra. – Sua mãe disparou a falar e nem deu sinal da raiva que Lanis havia percebido no seu último telefonema. A mãe havia apagado aquilo da memória.
- Por que os seus olhos estão inchados, querida? Andou chorando? E essas olheiras? O que aconteceu, Lanis? Vamos, entre!
Sua mãe a conhecia como ninguém. Lanis se lembrou de quando era criança e comia os doces da geladeira escondido. Após o almoço pedia um pedaço a mãe e ela dizia: “Você já comeu pela manhã, não se lembra?”. Achava que a mãe tinha uma bola de cristal escondida.
- Que canalha, Lanis. Eu sabia que ele não prestava, minha filha. Eu tentei abrir seus olhos, mas você nunca me ouvia, sempre gritava comigo. Seu pai vai querer matá-lo quando souber. Ele não podia ter feito isso com você.
- Está tudo bem agora, mamãe. Acalme-se. Eu devo pedir desculpas a vocês por toda a minha desobediência. Espero que me aceitem ainda como sua filha.
- Que bobagem é essa, querida? – Passou a mão no rosto de Lanis carinhosamente – Você é nossa filha. Vá tomar um banho. Vou preparar alguma coisa para você comer. Já deve estar passada de fome, não é? Ah, seu quarto continua no mesmo lugar e do jeito que você deixou. Tem toalhas limpas do lado direito do guarda-roupa.
Quando Lanis já estava a caminho do quarto sua mãe a gritou:
- Lanis?
- Sim, mamãe.
- Eu te amo mais do que tudo na vida, querida.
- Eu também te amo, mamãe. – Respondeu com a garganta travada e surpreendida com a nobreza daquela mulher.




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

PARTE I



Na ânsia de falar, nada sai.
Era o que estava ocorrendo naquele exato momento. Jhon perguntava insistentemente o que acontecera, mas Lanis não sabia o que dizer, ou, na verdade, por onde começar. Por um milésimo de segundo reviveu a tarde anterior àquela. Há quase exatas 24 horas, observava Jhon acariciar a mão de uma garota que ela nunca havia visto. O toque dele parecia ser um gesto normal para a moça que não parava de jogar os cabelos de um lado para outro, demonstrando ser um de seus charmes. Eram íntimos demais para um primeiro encontro. Aquela traição não aparentava ser de pouco tempo.
- Jhon, eu passei pela cafeteria Street ontem a tarde. – Lanis disse quase que em um sussurro. E, mesmo de cabeça baixa, pode ver os olhos de Jhon estremecerem, sua testa suar e seus lábios entreabertos tentando dizer uma palavra sequer.
Lanis não pediu para que ele dissesse alguma coisa ou que tentasse se explicar. Ficou em silêncio. Pensou em tudo que haviam vivido durante aqueles 6 anos e perguntou-se onde havia errado. Onde havia deixado uma lacuna para que ele procurasse preenche-la com outra companhia. Lembrou-se do quanto a garota era bonita, mesmo estando de costas para ela. Cabelos negros, longos, lisos, silhueta definida e postura impecável. Devia ter um bom papo, afinal, Jhon nem notou a presença da noiva bem atrás das portas de vidro da cafeteria.
Jhon interrompeu seus pensamentos com um simples “Eu sinto muito, Lani.” Costumava não dizer o ‘S’ de Lanis e argumentava que soava mais carinhoso, ela, porém, nunca concordou com tal explicação.
Lanis sabia que aquela deveria ser uma conversa longa, com devidas explicações e possíveis mentiras da parte dele, mas não queria que aquilo acontecesse. Gostaria de ficar em silêncio, ouvindo o movimento da rua. A sua noite já havia sido muito conturbada com todos os pensamentos, todas as lágrimas, toda a dor de cabeça. Enquanto a Jhon, esse não sabia ao certo o que deveria dizer, compreendia exatamente que deveria ficar calado por um tempo. Olhou para sua, talvez ex, noiva e percebeu o quanto seus olhos estavam inchados e as imensas olheiras que carregava. Sentiu-se tonto por ter sido tão burro de ter levado Anne para a cafeteria tão visitada por Lanis e sentiu-se mais burro ainda por ter traído uma pessoa tão maravilhosa como aquela.
Dessa vez, quem cortou o silêncio e o pensamento foi Lanis, que enfim perguntou:
- Como você a conheceu? Como ela se chama? Por que fez isso?
Sua voz tremia, o que fez cortar o coração de Jhon. Mesmo assim, percebeu o quanto Lanis era forte e a admirou por isso.
- O nome dela é Anne. Tem 20 anos e é estagiária do papai. Eu a conheci quando fui até lá para entregar uns documentos que haviam chegado em casa e a mamãe disse que eram importantes para o projeto que papai estava fazendo e que eu deveria levá-los lá, por que ele poderia precisar naquele mesmo dia. Assim que cheguei, esbarrei-me com Anne e deixei todos os papéis caírem ao chão. Ela me ajudou a pegá-los e pediu desculpas por não observar por onde andava. – Deu uma pausa e percebeu o quanto Lanis sofria ao ouvir tudo aquilo. - Lani, acho que você não precisa saber como as coisas aconteceram. Sinto-me um canalha e sei que sou, mas não preciso dificultar a situação para você tendo que explicar a minha noiva como eu me interessei por outra garota. Isso é ridículo.
- Jhon, eu não sei o que devo fazer. Como devo agir, se eu bato em você ou se te expulso a ponta pés daqui. Foram 6 anos, como você pode? – Começou a chorar e pensou que não ia aguentar mais falar. – O que eu fiz de errado, Jhon? Mandar cartas todo dia do nosso aniversário de noivado? Ou será que dizer que te amo todas as noites é demais? Ah, talvez ter deixado de ir para a melhor faculdade de São Paulo para poder me casar com você, não é?
Você ao menos sabe a gravidade da situação? Sabe o que os meus pais podem fazer comigo ao saber de tudo isso? Sabe, Jhon?
Lanis não encontrava forças para dizer tudo o que tinha entalado, então apenas pediu para que ele fosse embora. Ele tentou iniciar uma frase, mas Lanis repetiu com autoridade:
- Vá embora agora!
Ele foi.
Caiu em sua cama novamente e soluçava feito criança. Pediu a Deus para superar aquela dor que cortava seu coração e pediu para conseguir engolir aquela bola que sentia travar sua garganta. O que ela mais queria era o colo de sua mãe. Era poder pedir desculpas por ter a enfrentado para viver o amor que ela sentia por Jhon. O que ela havia ganhado com tudo aquilo?
Agora, encontrava-se em uma cidade no interior de Minas Gerais, vivendo em um quartinho alugado e esperando o dia de seu casamento com o rapaz que a traia há meses, ou anos, talvez. Pensou em ligar para sua casa em São Paulo e dizer a mãe que tinha se arrependido de tudo, mas lembrou que não ligava há 2 meses devido a última briga que tiveram por telefone.
Lanis tinha 24 anos e havia ido para Minas com os pais passar o verão por lá quando tinha apenas 18 anos. Conheceu Jhon em uma festa do mês de janeiro. Apaixonaram-se rapidamente e o fim do verão tornou aquele sonho em uma terrível luta. Lanis voltou para São Paulo, mas com a convicção de que voltaria para Minas e ficaria ao lado do rapaz que ela tanto amava. Logo quando anunciou sua decisão para sua mãe, ouviu gritos por umas duas semanas seguidas, mas não o suficiente para que fizesse mudar de ideia. No mês de julho, voltou para Minas e alugou um quartinho que ficava próximo ao restaurante onde Jhon havia arrumado um emprego para ela. Tudo aquilo era absurdo demais, mas no pensamento dos dois jovens, era a coisa certa a se fazer. E assim, fizeram.
Noivaram-se após 3 anos de namoro. A família de Jhon também achava tudo fora dos limites, mas nunca tentou impedir nada. A relação com os pais de Lanis foi morrendo a cada ano. A frequência de telefonemas foi diminuindo e sempre que havia algum, terminava em briga. Lanis não voltou mais a São Paulo desde os seus 18 anos. Agora, com 24, encontrava-se completamente perdida e vendo a realidade que insistiu em não observar durante todo aquele tempo. O rapaz por quem havia largado tudo tinha um caso com uma estagiária e ela possuía apenas um emprego ridículo de garçonete.
Lanis chorou tanto naquela tarde que acabou pegando no sono e quando acordou, percebeu que dormiu mais de 12 horas seguida. Bem, achava que agora havia descansado o suficiente para pensar em uma solução e um rumo para sua vida. 




Oi, gente boa. 
Eu sei o quanto estou sumida desse meu canto, mas estou  voltando com algumas novidades.
Esse texto é uma primeira parte de mais alguns que estão por vir. Será uma história curta, mas espero que agradem a todos.
Prometo visitá-los e ler tudo o que perdi, mas isso requer tempo, então tenham paciência comigo.
Saudade do canto de vocês, assim como eu estava do meu.
Ah, não sei se perceberam,mas minha história ainda está sem título. Não consigo processar muitas ideias ao mesmo tempo, rs. Qualquer dica, deixe nos comentários, viu? :)
Grande beijo.