Arrumou todas as coisas que tinha em uma única mala. Deu fim
a todos os seus poucos móveis, “vendendo-os à preço de banana”. Lanis sabia que
aquela era a melhor e única coisa que poderia fazer: voltar para São Paulo.
Pediu demissão e aguardou dois dias para receber o que tinha direito. Comprou
sua passagem e embarcou uma semana após a conversa com Jhon. Durante esse
tempo, ele ligou, mandou sms, mas Lanis não o atendeu de nenhuma forma.
Sua viagem foi tranquila, mas não sabia se assim seria
quando chegasse em casa. Não havia ligado para avisar nada temendo que seus
pais a rejeitasse. Desceu na rodoviária às 13:00 horas de uma terça-feira.
Havia esquecido o terminal rodoviário do Tietê era movimentado e sentiu-se perdida por um
momento. Respirou fundo e enfrentou toda aquela multidão, com a coragem que
achava que nunca teria e que nunca teve.
- Quem é? – Lanis ouviu sua mãe perguntar ao interfone.
Depois de dois meses sem ligar para casa, a voz de sua mãe soava estranha. Talvez triste, amargurada, não sabia. Pensou
no quanto havia perdido durante aqueles seis anos e sentiu ódio por ter sido
tão estúpida. Fechou os olhos com força e deixou uma lágrima escorrer.
- Mamãe, sou eu. Lanis.
- Lanis? Minha filha? – Sua voz passou de triste para
incrédula.
- Sim, mamãe. Em carne e osso. – Soltou uma risada contida.
– Dá para abrir o portão e vir me receber?
- Claro, minha filha. Estou descendo.
Lanis ouviu o bater do interfone, como se a mãe mal tivesse
colocado-o na posição correta. Percebeu que a surpresa não havia sido
desagradável e compreendeu o quanto sua mãe a amava e sentiu-se culpada mais
uma vez.
- Lanis! Não posso acreditar. É você minha filha. Quanto
tempo. Como você está? Por que não avisou que viria? Está de dieta? Estou lhe
achando magra. – Sua mãe disparou a falar e nem deu sinal da raiva que Lanis
havia percebido no seu último telefonema. A mãe havia apagado aquilo da
memória.
- Por que os seus olhos estão inchados, querida? Andou
chorando? E essas olheiras? O que aconteceu, Lanis? Vamos, entre!
Sua mãe a conhecia como ninguém. Lanis se lembrou de quando
era criança e comia os doces da geladeira escondido. Após o almoço pedia um
pedaço a mãe e ela dizia: “Você já comeu pela manhã, não se lembra?”. Achava
que a mãe tinha uma bola de cristal escondida.
- Que canalha, Lanis. Eu sabia que ele não prestava, minha
filha. Eu tentei abrir seus olhos, mas você nunca me ouvia, sempre gritava
comigo. Seu pai vai querer matá-lo quando souber. Ele não podia ter feito isso
com você.
- Está tudo bem agora, mamãe. Acalme-se. Eu devo pedir
desculpas a vocês por toda a minha desobediência. Espero que me aceitem ainda
como sua filha.
- Que bobagem é essa, querida? – Passou a mão no rosto de
Lanis carinhosamente – Você é nossa filha. Vá tomar um banho. Vou preparar
alguma coisa para você comer. Já deve estar passada de fome, não é? Ah, seu
quarto continua no mesmo lugar e do jeito que você deixou. Tem toalhas limpas
do lado direito do guarda-roupa.
Quando Lanis já estava a caminho do quarto sua mãe a gritou:
- Lanis?
- Sim, mamãe.
- Eu te amo mais do que tudo na vida, querida.
- Eu também te amo, mamãe. – Respondeu com a garganta
travada e surpreendida com a nobreza daquela mulher.
1 comentários:
A verdade é que quando se gosta, a gente deixa os erros do outro esquecido no canto e aceita de volta em casa, e no coração.
ótimo continuação. Bjws. "_"
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